A Santa Casa da Misericórdia e a crise...

  A Santa Casa da Misericórdia de Aljustrel, como todas as instituições deste género, que têm por base a solidariedade social, há muito tempo se debate com dificuldades. Contrariedades que todos os dias é necessário ultrapassar, com trabalho, esforço e dedicação. Mas não é isso que nos impede, garanto, de continuar a percorrer este caminho da fraternidade, de entreajuda e de partilha para com o próximo.

  Desde há muito tempo que muitas pessoas nos procuram. São muitos os que depositam a sua confiança, mas sobretudo a sua esperança em nós e, por vezes, não está ao nosso alcance poder ajudar, não porque não o queiramos, mas simplesmente porque não nos é humanamente possível fazê-lo. Muitas vezes porque a nossa capacidade não nos permite, outras porque não é a nós que compete fazê-lo.

  A Santa Casa da Misericórdia de Aljustrel, apesar do seu cariz social, onde o auxílio ao próximo é a sua principal função, não tem em seu poder a possibilidade de resolver os problemas maiores que afetam a sociedade. Nem esta Santa Casa, nem nenhuma instituição do género. Podemos, sim, ajudar a minimizá-los. Podemos, sim, contribuir com a nossa boa vontade e trabalho para a procura de melhores soluções. Podemos, sim, ser parceiros em várias frentes.

  A sociedade, no entanto, precisa de uma estrutura maior, de uma política que sirva a todos, em igual modo. De um País que tenha a capacidade de olhar para os mais fracos nos momentos mais difíceis, como os que agora se vivem.

  É certo que estamos em crise e que os tempos que se aproximam são de dificuldades, mas isso não pode servir de desculpa para deixarmos de olhar para o próximo. A crise não pode acentuar ainda mais as diferenças. Em momentos de crise um estado de direito deve estar preparado para proteger os mais vulneráveis e, embora as instituições de solidariedade social devam e possam contribuir para a minimização destes problemas, não podem substituir quem de direito e tem os meios e a responsabilidade de dar a mão a quem mais precisa.

  Todos os cidadãos, sem exceção, têm direito à sua dignidade, a condições mínimas de existência e devem, com crise ou não, manter a sua qualidade de vida. É preciso exigir deste Estado que assuma o seu papel, que cumpra a sua função. E a missão das instituições de solidariedade social também é essa, a de chamar a atenção, a de lutar para que todos tenham uma vida melhor.

  É preciso não confundir, assim, os distintos papéis que os diversos agentes ocupam na sociedade e, mais que tudo, é preciso não confundir solidariedade social com caridade. Ao ser humano exige-se um comportamento de dádiva para com o próximo, mas sempre de maneira a não ofender a dignidade de quem se pretende ajudar.

  Acredito, pela experiência que tenho e pelo o que vejo acontecer nesta instituição, que ninguém quer esmola. Ninguém procura a pena de ninguém. O que todos procuram são condições para melhorar a sua vida. E as condições criam-se em equipa. Só em rede poderemos alcançar o que estas pessoas tanto procuram. É preciso, deste modo, não confundir os papéis do Estado e das instituições de solidariedade social, porque eles são bem distintos. Podem e devem, no entanto, complementar-se.

  Estamos disponíveis para colaborar sempre. Estamos disponíveis para defender e ajudar o próximo, e estamos bastante atentos ao que se passa para exigirmos, para todos, uma vida com dignidade e com esperança num futuro melhor.